Carrefour tem histórico de agressões a clientes e casos de injúria racial


Grupo Carrefour protagonizou série de casos recentes de agressão e injuria racial
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A rede Carrefour tem um histórico problemático em casos de agressões físicas e discriminação racial no Brasil.  Em março de 2019, um cliente acusou o supermercado de racismo e discriminação após ser agredido por funcionários em São Bernardo do Campo, no ABC.

Na ocasião, Luis Carlos Gomes tomou uma lata de cerveja no interior da unidade do bairro Demarchi e informou que iria pagar pelo item consumido.  

Antes de efetuar qualquer tipo de pagamento, foi perseguido e agredido por um segurança e o gerente do supermercado. O homem recebeu um mata-leão, teve múltiplas fraturas devido as agressões e ficou com uma perna mais curta que a outra. Na ocasião, o Carrefour, em nota, disse que "sente profundamente pela situação a qual nosso cliente foi submetido e informa que, logo após rigorosa apuração, os colaboradores envolvidos foram desligados".

Trabalhadora foi surpreendida ao encontrar mensagem racista escrita por colega em empresa do Grupo Carrefour no Rio
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Outro caso ocorreu em setembro deste ano. A auxiliar de limpeza Nataly Ventura da Silva, 31, foi demitida sob a justificativa de ter se "envolvido em situações de conflito com outros funcionários" no Hipermercado Atacadão — uma das empresas do grupo no país.

Contudo, conforme denúncia do Ministério Público do Trabalho, Nataly foi demitida após denunciar injúria racial. Segundo o relato da funcionária, assim que começou a trabalhar no local, passou a ser perseguida por um colega.

Nataly chegou a ser surpreendida com a frase "só para branco usar" escrita em seu avental. A mensagem foi escrita por Jeferson Emanuel Nascimento, que assumiu o crime. O funcionário foi demitido após o início da investigação do MPT.

Sobre esse caso, o grupo afirmou que "atua a partir de políticas sérias de diversidade e repudia veementemente qualquer tipo de discriminação. Assim que tomou conhecimento do caso por meio do Ministério Público do Trabalho, abriu rigorosa sindicância para apurar o ocorrido, que resultou no desligamento do colaborador em questão."

Também neste ano um trabalhador morreu em uma unidade da rede em Recife. Na ocasião o caso gerou grande repercussão já que o corpo do trabalhador foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas de papelão, engradados de cerveja e tapumes improvisados entre as gôndolas da loja que seguiu funcionando.

Neste caso, o grupo divulgou nota assumindo o erro e dizendo que estava prestando auxílio para família do trabalhador. "O Carrefour pede desculpas em relação à forma inadequada que tratou o triste e inesperado falecimento do sr. Moisés Santos, vítima de um ataque cardíaco, na loja de Recife. A empresa errou ao não fechar a loja imediatamente após o ocorrido à espera do serviço funerário, bem como não encontrou a forma correta de proteger o corpo do sr. Moisés."

Para o criminalista Welington Arruda casos como o desta sexta-feira (20/11) e o histórico problemático da empresa devem promover o debate em torno da responsabilidade penal das empresas. "Hoje a legislação brasileira é omissa nesse sentido. Ainda assim acredito que isso deve ser explorado pelo Ministério Público já que a rede tem um histórico de agressões e injúrias raciais nos últimos anos", explica.

Problema generalizado

Apesar de problemático, a rede não é a única empresa que tem protagonizado fatos lamentáveis como desta quinta. Em setembro de 2019, um jovem negro foi amarrado nu, chicoteado e filmado no interior do supermercado Ricoy, na zona sul da capital paulista.

Em agosto deste ano, o jovem negro Matheus Fernandes, 18, foi vítima de racismo no Ilha Plaza Shopping, na zona norte do Rio. Ele queria apenas trocar um relógio que havia comprado de presente para o Dia dos Pais e acabou agredido numa unidade da Renner. A loja de departamentos se limitou a lamentar o fato e informar que havia demitido os agressores.

No mesmo mês, o Condomínio Partage Shopping Campina Grande foi condenado a pagar R$ 10 mil de indenização, por danos morais, pelo juízo da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba.

O autor da ação afirmou ter sido impedido de entrar no shopping com os seus amigos, acusado de ter agredido um segurança momentos antes, sendo colocado contra a parede, sob o pretexto de ser um "criminoso" e "bandido", sem que tenha cometido qualquer ilícito contra funcionário do shopping, situação que lhe impôs grande constrangimento, ao ponto de passar a depender de medicação controlada após o fato.