O Herói agora é bandido?


Por Klebinho Branco - Não faz muito tempo nossa cidade foi tomada por uma notícia que percorreu os quatro cantos do país. A tentativa de homicídio contra um repórter cinematográfico que cobria o carnaval foi o fato que marcou o evento deste ano. Muitos se lembram do ocorrido, afinal o momento do crime foi transmitido ao vivo pelo canal de televisão a qual a vitima era funcionário.

Como um rastro de pólvora a noticia se espalhou na cidade e muitos curiosos foram ao local na tentativa de conseguirem mais informações. Não precisou de muito tempo para que o fato ganhasse o mundo através das redes sociais, o que por sua vez também chamou a atenção da impressa nacional. Todos os principais telejornais e sites do país noticiaram o ocorrido, recebemos em nossa cidade repórteres renomados que vieram fazer a cobertura do crime.

Surgia ali a figura de um herói!

Tratava-se de um médico, que com sua habilidade de cirurgião, conseguiu salvar a vida do cinegrafista atingido por quatro tiros de revolver. Fileiras se formaram para tecerem elogios ao médico herói. Secretário de Saúde, diretores do hospital, até o prefeito surgiu do nada, se acotovelando com os demais, na tentativa de aparecer na televisão em nível nacional e anunciar as boas novas. 

O cinegrafista estava salvo!

O Deputado, por sua vez, deu uma declaração emocionada, chegando a tremer o queixo e esboçar um choro ao afirmar ser dele o mérito em trazer o profissional da medicina para compor o quadro de servidores do hospital municipal. Na ocasião, todos queriam tirar uma casquinha, afinal os holofotes estavam voltados para o acontecido.

O que se via na época, lembrava muito a novela de Dias Gomes, O Bem Amado, que retratava uma cidade fictícia de Sucupira.

Mas como é de praxe nas administrações de caráter duvidoso transformar opositores em bandidos, com o Médico não poderia ser diferente. Bastou o profissional da medicina abrir a boca para reclamar os maus feitos na gestão, que como em um passe de magica, aquele que era herói passou a ser bandido. O desprezo ao médico é tamanho que nem mesmo seus receituários são atendidos, ordens expressas dos superiores.

Na musica de Chico Buarque (Gení e o Zepelim), Gení é conclamada a deitar-se com o capitão do Zepelim para salvar a comunidade, e assim o fez! 
O médico da nossa crônica está longe de ser a Gení, no entanto, hoje vendo os dejetos morais a ele lançados, percebo claramente que só mesmo a ameaça de um Zepelim gigante fará com que a gestão municipal pare e reveja seus conceitos.