Adolescente vítima de ciberbullying comete suicídio



Bullyng-MiniUma adolescente, vítima de ciberbullying, acaba de cometer suicídio. A menina de 17 anos teve imagens íntimas expostas na internet, não suportou a pressão e acabou com a própria vida.
O vídeo “vazou” na internet – ainda não se sabe se o autor do vazamento foi o ex-namorado ou uma amiga invejosa – através do aplicativo Whatsapp – usado em celulares e em computadores – e se espalharam pelas rede com a velocidade dos escândalos virtuais. É mais uma tragédia dos tempos modernos, da comunicação fácil e da excessiva exposição.


A menina era promissora. Bonita, inteligente, educada e todos gostavam dela. As amigas e amigos da escola dizem que era uma pessoa de muita luz. Pretendia prestar vestibular no final do ano e todos achavam que ela seria, em qualquer curso, uma das primeiras colocadas. ...

As pessoas que compartilharam as imagens já começaram a ser identificadas pela polícia e, de forma muito semelhante, dizem que a divulgação das fotos não passou de uma brincadeira inocente, de uma “zoação”. A adolescente, entretanto, não achou nenhuma graça. Ela postou uma nota no Facebook, pedindo perdão à família e aos amigos, dizendo que que não suportaria a pressão e a vergonha. Também deixou uma mensagem no Twitter, com os seguintes dizeres: “Te espero do outro lado! Perdão!”.

O que dissemos até agora não é verdade, mas ao mesmo tempo é (ou pode ser) verdade.

Explica-se.

Pesquisando notícias sobre vítimas de ciberbullying que cometeram suicídio, percebe-se sempre os mesmos contornos fáticos. No tempo da exposição excessiva e em tempo real, pode-se perder a intimidade e a privacidade em questão de segundos. A pressão de tanta exposição, especialmente em adolescentes, pode causar transtornos graves e até levar, em casos mais graves, ao suicídio.

Uma pesquisa realizada pela ONG Safernet, em parceria com a GVT, entrevistou quase três mil jovens brasileiros entre 9 e 23 anos de idade. 62% dos entrevistados disseram utilizar a internet pelo menos uma vez por dia. 80% dos entrevistados utilizam a rede mundial de computadores prevalentemente para acesso às redes sociais.

E a auto exposição está na moda, tanto que a palavra “selfie” foi escolhida pelo dicionário Oxford, como a palavra do ano de 2013.

Um dos modismos do momento é um jogo pelo Skype em que o perdedor mostra uma parte do seu corpo. Em um caso – real – que resultou em suicídio, uma menina mostrou os seios e alguém salvou a imagem e a difundiu pela internet. Quando a adolescente soube, cometeu suicídio com um lenço. Disse, em um texto no Facebook, preferir morrer do que envergonhar a família.

Os pais de crianças e adolescentes e as escolas hoje têm uma desafio que não existia há alguns anos, o de lidar com a era da informação e de forma usuários conscientes da tecnologia. É um desafio e tanto e para o qual a maioria das pessoas ainda não está preparada.

As meninas, de uma forma especial, estão sujeitas a uma moderna forma de apedrejamento (moderna na forma, mas atávica na essência). Já foram documentados casos em que meninas e suas famílias tiveram que mudar de cidade por causa da exposição e do preconceito social. Na verdade, todos os grupos minoritários estão sujeitos ao ciberbullying. As pessoas com deficiências, por exemplo, sempre sofreram preconceito no período escolar. Agora as humilhações são filmadas e compartilhadas.

Mesmo adultos podem ser vítimas da tecnologia. O Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT DF), recentemente foi ridicularizado nas redes sociais. Um grupo de amigos, ao avistá-lo, começou a aplaudir. Ele, achando que eram eleitores, foi os cumprimentar e ao se aproximar começou a ouvir críticas sobre o fato de ter destruído Brasília. No caso, sofreu bullyng, mas trata-se de um adulto e político, acostumado às vaias. Imagine-se a mesma cena com um adolescente?

Em 2013, nos Estados Unidos, 09 adolescentes cometeram suicídio tendo por motivação o ciberbullying. O número, provavelmente, é maior.

As famílias e as escolas ainda não sabem bem como lidar com o tema, mas precisam aprender, e rápido, porque o mundo digital e virtual já faz parte da nossa realidade. Talvez um bom princípio de enfrentamento da questão passe por saber ouvir e prestar mais atenção ao que dizem os jovens.

A questão é tão grave que em países como os Estados Unidos e o Canadá, a equipe do Facebook, preocupada com mensagens suicidas, criou uma ferramenta que identifica cuidados suspeitos e que, preventivamente, oferece um link para uma conversa privada com um especialista em prevenção de atentados contra a própria vida. O serviço ainda não está disponível no Brasil.

Enfim, a intenção deste texto é a de alertar, de suscitar preocupação nos pais, quanto ao comportamento dos filhos na internet. Boa parte do público que acessa o Blog Saber Melhor é composto por pais de pessoas com síndrome de Down, grupo que ainda sofre preconceito, em especial no âmbito escolar. Devemos estar atentos ao comportamento on line dos nossos filhos. A internet, em si, não é boa e nem má, o uso que dela fazemos é que pode ser bom ou ruim. No mais, além de estarmos atentos aos sinais emitidos pelos jovens de que estão sofrendo ciberbullying, devemos torcer para que “brincadeiras” irresponsáveis não custem mais vidas, nem aqui e nem em lugar nenhum.


Fonte: Blog Saber Melhor