Saúde X Doença: Aspectos Ideológicos
quinta-feira, outubro 17, 2013 |
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Iniciemos nossa reflexão nos perguntando sobre a significação de saúde e doença.
Perceberemos que será difícil conceituarmos saúde. Falamos muito em saúde, sabemos o que é, mas praticamente não temos condições de traduzir com palavras. Mais fácil é dizer o que ela não é. Assim, saúde é ausência de doenças, de desequilíbrios, de sintomas. Mas nem sempre conceituar a saúde pelo que ela não é eficaz, pois o indivíduo pode estar apresentando uma doença assintomática, por exemplo, câncer, e por isso não existe saúde como ausência de doença. Tem-se saúde pela ausência de sintoma, pois ainda se desconhece que é portador de uma doença. Assim temos inúmeros casos, tais como hepatite, tuberculose, HPIV, enfim, inúmeras patologias existentes, mas que por não conhecê-las, pois não são manifestas, não me considero como uma pessoa não saudável.
Porém, temos como conceituar doença, patologia ou enfermidade, como funcionamento desequilibrado do organismo, ou pelo menos como disfunções orgânicas, ou mesmo pela presença de sintomas. Doente é aquele que apresenta os sintomas de uma doença. Mas às vezes os sintomas não são características de uma doença e sim manifestação de algum esforço exagerado, por exemplo, onde se podem experimentar dores corporais que se sente após exercícios físicos, quando não acostumado.
Outra concepção deve se ter em relação aos traumatismos e ferimentos. Eles não são doenças propriamente ditas, mas retiram temporariamente da pessoa a capacidade produtiva e convívio social.
Saúde e Ideologia
Percebemos que o conceito, caracterização e tratamento da depressão e de outras doenças consideradas doenças mentais, evoluíram junto com a incidência das mesmas e que muitos dos sintomas que eram considerados normais e necessários para a vida humana, por exemplo, o vivenciar o luto de uma perda, passaram a serem considerados enfermidades que necessitam de tratamento. Percebe-se que os conceitos de saúde e doença, bem como o que é considerado doença foram, e são constituídos a partir de pressões econômicas e institucionais, produzindo uma ideologia.
Saúde e segurança são os itens, “produtos” que mais se vende ultimamente. E grande parte do poder econômico está voltada à mesma. Vimos a guerra dos EUA contra o terror, e a deterioração da economia mundial, o poder das indústrias químicas de medicamentos e o embate sobre as patentes na fabricação das vacinas e teste contra a gripe suína. Observemos que as vendas de veículos blindados surpreenderam com altos índices, bem como as farmácias se portando como supermercados da saúde. Mesmo a Microsoft se propôs a adentrar neste segmento, trazendo como meta o desenvolvimento de softwares específicos e sofisticados para a área da saúde e de serem os primeiros.
Fui surpreendido por este texto de Rubem Alves no artigo “Religião e Enfermidade” que publicou na coletânea: “Construção Social e Enfermidade” org. Moraes. J.F. Regis de, ed. Cortez & Moraes, São Paulo, S.P., 1978, pp33.” Chegamos assim, às seguintes conclusões:
“Saúde e patologia são armas ideológicas e institucionais para a preservação do comportamento ajustado. São instrumentos para a preservação do comportamento ajustado. São instrumentos para o controle dos “
“No fundo do problema da saúde e da patologia encontramos o problema do poder.”
“Assim, coitado dos que não seguem padrões de normalidades que hoje são impostas. O que é considerado normal mudou, e muitos dos sintomas que eram considerados sadios, mas que imprimiam desconfortos, ausências ou mesmo sofrimentos, foram banidos à esfera da patologia. e todos que são desajustados por questionarem o sistema ideológico, não importando a sua forma, são considerados doentes e necessitando de tratamentos.”
Não são somente o indivíduo que está doente e sim os grupos, instituições e a cultura, apresentando os sintomas de despersonalização e de perda ou mudança no seu sentido estrutural de existir.
As culturas foram desenvolvidas pelo ser humano e pode ser modificada e adequada. Mas para tanto necessitamos compreender esta dinâmica ideológica.
Léo Baroni